sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cartas de um Nihonjin Uchinachu do Brasil



Culturas brasileira, japonesa e
okinawana reunidas numa infância
Por Osvaldo T. Higa

Reminiscência da infância que reavive aspectos das culturas nipônica e okinawana, muitos deles praticamente desconhecidos pelos brasileiros. Esse é o dado que mais chama a atenção na leitura do livro "Cartas de um nihonjin uchinanchu do Brasil", de Paulo Moriassu Hijo.
O próprio título da obra deverá provocar três prováveis reações: dúvidas e curiosidade nos brasileiros que não têm a menor noção sobre a língua japonesa; dúvidas também nos japoneses e seus descendentes que desconhecem a língua okinawana; e interesse nos okinawanos e seus descendentes em se verem indentificados nessa narrativa.
Literalmente, na língua portuguesa, o título do livro seria "Cartas de um japonês okinawano do Brasil". Mas o autor fez questão de grafar os adjetivos gentílicos em suas formas fonéticas originais para destacar que, inconscientemente, as três culturas estavam presentes no dia-a-dia de sua infância.
Nascido em 1953, em Presidente Prudente, no oeste do Estado de São Paulo, Paulo Moriassu Hijo viveu seus primeiros sete anos de vida num sítio, sob os cuidados de seus avós -- imigrantes que vieram de Okinawa, antigo reino de Ryukyu, anexado como província do Japão em 1870.
No sítio, com os avós, sua comunicação era afeita em uchinaguchi (idioma okinawano), com os demais colonos de origem japonesa, trocava palavras em nihongo (idioma japonês) e começou a aprender formalmente a língua portuguesa ao iniciar a escola primária.
A narrativa dessa infância foi feita a d. José de Aquino Pereira, que foi o primeiro bispo da Diocese de Presidente Prudente, instalada em 1960. Lá, aos dez anos, Paulo Moriassu Hijo era coroinha da Catedral São Sebastião. No fim de 1964, ele e sua família mudaram-se para Santo André, na Grande São Paulo.
O ex-coroinha e o bispo só viriam a retomar contatos em 2004, mais de 40 depois. Nesses contatos, o autor, por meio de cartas, contou-lhe como foi a infância de um garoto que, a um só tempo, convivia com três idiomas, com culinárias diversas, com a tradição xintoísta de Okinawa e com a fé na crença católica.

Osvaldo T. Higa é escritor, jornalista e produtor de televisão


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Deus Não é fiel



Fixemos nosso olhar nas coisas deste mundo. Certifiquemos que vivemos num mundo da diversidade. Tudo que aqui se encontra não é único. Não há só um exemplar de mesa. Também não há um só homem. Cada coisa que se põe à vista é um objeto, mas, como objeto, tal coisa pode se mostrar com formatos, tamanhos e cores diferentes. Se requisitarmos uma mesa e não a adjetivarmos, ninguém saberá, apenas pelo nome “mesa”, de qual mesa necessitamos.

Quando alguém indica uma pessoa apenas pelo seu nome, por exemplo, Paulo, e não nos fornece nenhuma característica, nem dados para sabermos a qual “Paulo” ele se refere, não como saber quem é esse Paulo. Se quisermos ter a mesa da qual necessitamos, ao requisitá-la, devemos qualificá-la, descrevendo-a como de madeira ou de metal, pequena ou grande, alta ou baixa, comprida ou curta, quadrada, retângula ou redonda. Se quisermos saber de qual Paulo se fala, devemos obter as suas qualidades, tais como a sua nacionalidade, sua estatura, a cor da sua pele.

E também as suas qualidades acidentais, como Paulo careca, gordo, que usa óculos. Tudo que aqui se encontra, encontra-se apenas neste mundo, sendo, portanto, mundano. Mundano por que? Porque nada aqui é perfeito nem eterno. Tudo é gerado e se corrompe. Não há nada que não esteja em movimento e livre de mudanças. Algo bom pode se corromper tornando se ruim. Nada escapa ao efeito do tempo. O novo, com o tempo, passa a velho.

Aqui, repito, é o mundo da diversidade, onde se se necessita, para conhecer e reconhecer qualquer coisa, de adjetivos. Aqui podemos dizer que uma pessoa é fiel, bela, rica, bondosa, feliz. Em uma palavra, o homem é um ser que precisa ser adjetivado para ser conhecido e reconhecido. Agora avistemos Deus. Ele se encontra em todos os lugares, mas não reside aqui. Ele reside no mundo Celestial e é Único. Não há mais que Um, mas apenas Ele, apesar dele ser Três. Mas Três também é Um. E quando se há apenas Um, basta apenas o Seu nome.

Aquele que conhece verdadeiramente Deus, sabe que Deus não deve ser adjetivado, pois querer qualificá-Lo, como fazemos com as coisas mundanas, é querer trazê-Lo para este mundo e fixá-Lo aqui. Não se deve adjetivar Deus, pois Ele não pertence a nenhuma categoria deste mundo, e comete-se a heresia ao dizer que Deus é rico, belo, bondoso, feliz ou fiel. Deus é Deus, o próprio nome. Portanto Deus é a própria Riqueza, a própria Beleza, a própria Bondade, a própria Felicidade e a própria Fidelidade.